Qual o significado de classe social para Karl Marx?
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Qual o significado de classe social para Karl Marx?
Neste tema, compreenderemos o conceito de classe social a partir das teorias desenvolvidas por Karl Marx. Vale pontuar que, em suas obras, as contribuições de Friedrich Engels foram fundamentais, de forma que os dois autores compartilham diversos pensamentos intelectuais e instrumentos metodológicos de análises para explicar a realidade. Eles enfatizaram principalmente o viés econômico e as contradições sociais que se estabeleceram dentro da sociedade capitalista.
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O que significa classe social para Marx?
A resposta para nossa pergunta inicial está diluída em diversos livros, dentre os quais destacamos os seguintes:
Daí podemos entender que compreender o conceito de classes, em Marx, é considerar que não se trata se algo explícito ou definido, mas ontológico, em sua obra como um todo.
É importante ressaltar que o conceito de classe não foi originalmente formulado por Marx, mas apropriado por ele, para tecer suas análises. Segundo Ronald H. Chilcote (1995), a origem do conceito antecede a obra de Marx, em escritos do filósofo e economista francês Saint Simon (1760-1825). Porém, foi a partir das teorias de classes formuladas por Karl Marx e Max Weber que o conceito ganha escopo como categoria de análise social.
As teorias dos dois pensadores apresentam alguns contrastes, que destacamos no trecho a seguir:
Primeiro, entre posição social e ação social: “Marx conceitua classe como uma estrutura objetiva de posições sociais, enquanto a análise de classe de Weber é construída na forma de uma teoria da ação social”. Segundo, entre perspectivas uni e multidimensional: “Marx sustenta uma concepção unidimensional de estratificação e divisão social, em que relações de classe são predominantes, ao passo que Weber sustenta uma visão multidimensional na qual relações de classe cruzam com e são frequentemente excedidas em importância por outras (não classistas) bases de associação, notadamente status e partidos”. Terceiro, a ênfase em exploração versus dominação: “na teoria marxista, a lógica essencial das relações de classe e do conflito de classe a exploração, e a dominação política e ideológica é interpretada meramente como um meio pelo qual a exploração é assegurada; já em Weber a dominação é concebida como um fim em si mesma, com sua própria força e lógica independente”. Quarto, produção e mercado: “para Marx, classes são uma expressão de relações sociais de produção, enquanto Weber conceitua classes como posições comuns dentro do mercado.”
(BURRIS apud CHILCOTE, 1995, p. 87)
Como podemos perceber, o conceito de classe pode ser polissêmico, o que significa que pode demonstrar diversas interpretações.
A seguir, sistematizamos um resumo da perspectiva de cada um dos autores no que diz respeito a seus entendimentos acerca do conceito de classe.
CLASSE | |
Weber | Acredita que seria possível um tipo de “alocação” da classe trabalhadora inserida no sistema capitalista, conforme o mercado se modifica. |
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Marx | Entende a categoria de luta e conflito entre as classes como sendo estrutural, pois a condição de dominação e exploração da classe burguesa sobre a classe trabalhadora é historicamente constituída como um fator de permanência. Embora os meios de produção se modifiquem, uma classe, como detentora desse meio, sempre vai precisar explorar outra para se manter. |
Neste tema, nosso foco é o conceito de classe desenvolvido por Karl Marx, por compreendermos que é neste autor que podemos perceber melhor as contradições sociais que levam à desigualdade, mas também porque sua abordagem move a sociedade em busca de transformar a realidade.
Marx elaborou vários escritos sobre diversos períodos históricos para desenvolver suas teorias a respeito das classes sociais. Suas análises partiram do método criado por ele e Engels, chamado de “materialismo histórico dialético”, que pressupõe analisar a realidade considerando os contextos históricos, em cada tempo.
Nas palavras de Marx, “Toda a História humana até aqui é a História da luta de classes”.
O materialismo histórico apresenta uma análise social que considera os fatores econômicos o ponto de partida para a compreensão da materialidade como construção do próprio ser e de suas relações produtivas e reprodutivas dentro da sociedade. A luta de classes é compreendida como o motor, ou seja, aquilo que impulsiona a História.
Materialidade
Materialidade está relacionada ao conceito de materialismo e ao método do materialismo dialético, que pressupõe que o mundo é, pela sua natureza, material; de que os múltiplos e variados fenômenos do mundo representam diferentes aspectos da matéria em movimento.
Para aprofundar seus conhecimentos acerca deste tema, acesse A Materialidade do Mundo e as Leis de Seu Desenvolvimento.
Para chegar a esta compreensão, Marx destacou a progressão dos estágios históricos considerando os estágios sistematizados na imagem a seguir:
A obra de Marx está localizada, principalmente, no contexto histórico da formação da classe operária e da consolidação da Revolução Industrial dentro do sistema capitalista, que testemunhou o crescimento das fábricas e da produção industrial — e os resultados de desigualdades causadas pelo acúmulo do capital centrado nas mãos da burguesia. O interesse no movimento trabalhista europeu e nas ideias socialistas refletiu-se em seus escritos, sendo a maior parte do seu trabalho concentrada em temas econômicos, ainda que não estejam desvinculados das instituições, de modo que sua obra é considerada rica em percepções sociológicas.
Para compreendermos o conceito de classe na abordagem de Karl Marx, observe o trecho a seguir:
Marx frequentemente referiu-se a classe em um sentido popular, como um grupo de pessoas partilhando de certas características, como renda. Assim, algumas vezes ele mencionou a classe industrial, ou as classes ideológicas, ou as classes improdutivas. Todavia, ele diferenciou classes com relação ao desenvolvimento histórico das forças de produção e ao aparecimento de um produto excedente além das necessidades dos trabalhadores ou produtores diretos, de forma que a classe dominante pode ser claramente diferenciada da classe trabalhadora em termos de relações de produção. Classe, portanto, é compreensível à luz de um modo de produção dominante na sociedade.
(CHILCOTE, 1995, p. 95)
Desse modo, temos que a ideia central de classes está na formação da sociedade capitalista industrial.
O capitalismo pode ser compreendido como um sistema de produção que contrasta radicalmente com os sistemas econômicos anteriores historicamente, pois envolve a produção de mercadorias e de serviços para uma ampla faixa de consumidores.
Marx identificava dois elementos principais dentro das empresas capitalistas, que são:
Clique nas abas para entender cada um deles.
O capital se refere a qualquer bem — incluindo dinheiro, maquinários ou mesmo fábricas — que possa ser usado ou investido (acumulado) para produzir bens e futuros.
A mão de obra assalariada se refere ao conjunto de trabalhadores que não são donos de seus meios de sobrevivência, mas precisam encontrar emprego fornecido pelos detentores do capital.
Marx acredita que aqueles que detêm o capital — “os capitalistas” — formam a classe dominante, enquanto a massa da população constituiu a classe trabalhadora ou classe operária.
Como a industrialização se espalhava, um grande número de camponeses, que antes se sustentavam trabalhando na terra, foi forçado a mudar-se para as cidades, que cresciam, contribuindo para a formação de uma classe operária industrial urbana. Essa classe também foi aferida como proletários.
As teorias marxistas influenciaram e influenciam diversas pesquisas em áreas distintas, em universidades nacionais e internacionais — os debates suscitados por Marx tornaram-se um paradigma no campo epistemológico das ciências humanas. Seus estudos se desdobraram em diversas teorias e análises surgidas no século XX, como as apresentadas por Antônio Gramsci, a respeito da hegemonia e ideologia das classes dominantes, os aparatos do Estado como sustentáculos dos interesses burgueses, entre outros aspectos.
É importante citar, também, a famosa Escola de Frankfurt da Alemanha, conhecida por desenvolver a chamada teoria crítica do conhecimento, que debate com o marxismo, não para desqualificá-lo, mas utilizando-o à luz das mudanças ocorridas nos finais do século XIX e início do XX.
Escola de Frankfurt
A escola de Frankfurt, associada à Universidade de Frankfurt (Alemanha), foi um movimento filosófico que propôs a teoria crítica do conhecimento, buscando entender, entre outras coisas, os motivos da não superação do sistema capitalista, da frustração das expectativas sobre o potencial revolucionário do proletariado.
Cientistas sociais importantes como Pierre Bourdieu, Althusser, Gorender, Florestan Fernandes, entre outros, fizeram suas pesquisas embasadas na corrente marxista. Historiadores como Eric Hobsbawm, E.P. Thompson, Raymond Willians, entre outros, também tiveram suas obras influenciadas pelos estudos de Karl Marx.
Pierre Félix Bourdieu (1930-2002) foi um sociólogo francês.
Louis Althusser (1918-1980) foi um filósofo do Marxismo Estrutural de origem Francesa nascido na Argélia.
Jacob Gorender (1923-2013) foi um historiador e cientista social brasileiro.
Florestan Fernandes (1920-1995) foi um sociólogo, patrono da sociologia brasileira.
Eric Hobsbawm (1917-1912), historiador britânico.
Edward Palmer Thompson (1924-1993), historiador inglês.
Raymond Willian (1921-1988), sociólogo e teórico da comunicação e da cultura, do País de Gales.
Para compreender a influência de Karl Marx:
Neste tema, compreendemos como Karl Marx pensou as classes sociais em sua relação com a sociedade capitalista. Buscamos demonstrar que o método de análise denominado materialismo histórico dialético foi a base para o desenvolvimento da teoria ligada às classes sociais. Para Marx, é por meio da compreensão da divisão do trabalho em diversos períodos históricos — e das tensões geradas entre classes em oposição — que se produz a materialidade, que é parte do próprio sujeito e o que ele produz.
Porém, voltamos a apontar que a ideia de classes em Marx permeia diversas obras. Portanto, se trata de compreender o conceito em contextos diferentes, mas que preservam o entendimento de sujeitos que dividem uma mesma condição do social, seja como detentor dos meios de produção ou como proletário.