Riscos no ambiente das operações de crédito

Aula 2 O processo de rating

Para quem é o rating?

Em primeiro lugar, cabe retornarmos aos conceitos de rating interno e rating externo.

O rating interno

O rating interno trata da classificação de risco de uma operação de crédito, seja ela direta ou através da compra de títulos de dívida, feita pelo credor, seja ele uma instituição financeira ou um agente aplicador de recursos, tais como seguradoras, companhias de capitalização ou fundos de pensão.

A principal finalidade de um rating interno é a de guiar e dar transparência ao racional de investimento ou poupança, que podemos chamar simplesmente de aplicação de recursos, por uma entidade, envolvendo seu departamento de análise de crédito e cuja demanda por governança ou resultados assim impõe.

Em outras palavras, o rating interno traduz parte da decisão de crédito e firma compromisso com acionistas e stakeholders em geral sobre a mesma.

Bancos têm seus processos de classificação de riscos de clientes e operações auditados e fiscalizados pelo Banco Central do Brasil e, como melhor estudaremos a frente, são objeto de regulação através da Resolução 2.682, do Conselho Monetário Nacional.

Desta forma, as classificações de risco de uma empresa, por exemplo, pode diferir de uma instituição financeira para outra, mas cabe ao BCB intervir para evitar disparidades.

Fundos de pensão, que se constituem em grandes agentes aplicadores de recursos, utilizam processos de rating para documentar decisões de crédito, no sentido de reportá-las, no presente e no futuro, aos seus participantes, beneficiários e conselheiros.

O rating externo

O rating externo é elaborado por empresas especializadas, as anteriormente citadas Agências Classificadoras de Risco ou simplesmente Agências de Rating.

Para este tipo de rating, são considerados os mesmos fatores e atributos utilizados para se elaborar um rating interno, porém, a nota obtida tem seu uso direcionado a terceiros, isto porque agências de rating não operam com recursos próprios ou de terceiros em quaisquer mercados, sejam eles de crédito ou de capital, de renda fixa ou variável.

Em suma, o rating externo é elaborado por terceiros especializados e utilizados por aplicadores de recursos, não servindo, porém, como rating interno, mas apenas como opinião da própria agência.

A leitura do rating

Antes de pensarmos em como é elaborado o rating, pensemos no produto final, a nota, sua utilidade e como ela pode ou deve ser interpretada.

Em primeiro lugar, a nota de rating indica a inexistência de risco, e não sua intensidade, assim, quanto maior a nota, menor o risco.

Outro ponto a se destacar, é que a escala é própria de cada agência de rating. Desta forma, conhecer a escala e o que está implícito na mesma é fundamental ao se utilizar um rating externo para uma decisão de crédito ou investimento.

As diferenças de escala podem, em certos casos, prejudicar a comparabilidade de níveis de risco entre um ou mais ativos, se estes forem classificados por diferentes agências, uma vez que, cabe ressaltar, a contratação do rating é uma decisão do emissor ou do ente classificado.

Por outro lado, a realidade aponta para um número reduzido de agências classificadoras de risco, principalmente, se considerarmos âmbitos globais.

A probabilidade e a estatística

O entendimento do rating e do seu processo de obtenção se torna mais fácil se considerarmos e melhor entendermos estas duas ciências.

A estatística estuda a frequência e eventuais relacionamentos entre eventos passados, é a ciência da observação e registro. Ao organizar e muitas vezes ordenar eventos, a estatística se torna uma ferramenta útil para aplicarmos em estudos e previsões.

Os dados obtidos nos estudos estatísticos podem ser utilizados nos chamados estudos probabilísticos, os quais buscam não necessariamente prever, mas nos mostrar o grau de exposição e, por que não, a probabilidade de um evento ocorrer, o momento ou espaço de tempo em que ele pode ocorrer e em função de que ele pode vir a ocorrer.

Outros estudos probabilísticos se utilizam apenas de informações e observações presentes, que bastam para a análise.

Assim, tomemos um exemplo clássico do estudo da probabilidade aliada à estatística, o da confiabilidade de elevadores.

Imagine um projeto de um prédio comercial de trinta andares, cujo funcionamento de elevadores indique como dois a quantidade satisfatória. Bem, dois são o mínimo, mas se ocorrrer um defeito em um deles o deslocamento vertical no condomínio se tornará um caos.

Coube então aos projetistas e engenheiros determinar quantos elevadores deveriam ser instalados, como uma forma de contingência, permanente, ou não. Apelou-se então para estudos estatísticos confiáveis sobre a ocorrência de defeitos nos equipamentos a serem instalados e, tais números foram aplicados em série, ou seja, os eventos se tornaram dependentes pois, partindo de um número de quatro, tomou-se a probabilidade de um defeito em uma unidade e sobre essa se aplicou novamente a mesma medida de probabilidade, indicando então o risco de defeito em dois elevadores, o que ainda seria aceitável e, por fim, o risco da terceira pane simultânea.

Assim, equipamentos com 30% de probabilidade de inoperância, ou seja, a cada dez dias eles ficariam três parados, se colocados desta maneira, estariam operando abaixo do aceitável em menos de três dias a cada cem dias, como demonstrado a seguir:

PBB = 0,30 x 0,30 x 0,30 = 0,0270 = 2,70%

Outro exemplo clássico, este do uso de informações presentes apenas, é o do lançamento de dados. Um único dado ao ser lançado oferece igual probabilidade de uma para seis chances de cada um dos números ser o da face que fica para cima. Tal fato e observação não dependem de frequências passadas, ou seja, para um dado perfeito, que chamamos de não viciado, lançá-lo infinitas vezes para colher seu comportamento é inútil para prever o próximo ou os próximos resultados de lançamentos.

Tais fundamentos são utilizados para uma boa classificação de risco, seja ela para riscos soberanos, de países, de empresas financeiras ou não financeiras ou de dívidas, estas últimas são objeto de nosso estudo, sejam elas através de operações de crédito ou de títulos.

A fila do default

A referência a uma “fila” ou ordem de default, na verdade, é uma provocação para que analisemos o rating como ele deve ser, isto é, uma medida estatística probabilística.

Tomemos inicialmente o exemplo dos dados, mas imagine um deles sem numeração. Com uma caneta para escrita em plástico, similar às utilizadas para CDs e DVDs, marquemos três vezes a letra X, duas vezes a letra Y e uma vez a letra Z, preferencialemente seguindo uma distribuição espacial, mas não sendo isso o determinante de nosso experimento.

Em seguida, vamos calcular a probabilidade de cada letra ser a face superior do dado após seu lançamento. Para tal:

PBBx = 1/6 + 1/6 + 1/6 = 3/6 = 1/2 = 50,00%

PBBy = 1/6 + 1/6 = 2/6 = 1/3 = 33,33%

PBBz = 1/6 = 16,67%

Os cálculos apontam para uma probabiliade de 50% para a obtenção da letra X no experimento, não sendo necessário, diga-se de passagem, observar históricos de frequências de lançamentos.

A lei dos grandes números leva nosso experimento a confirmar probabilidades à medida que os lançamentos se tornam numerosos, gerando uma distribuição quase perfeita de letras, segundo suas presenças no dado.

Por outro lado, e aí é que focaremos nossa discussão, se lançarmos o dado uma única vez, pode ser que a letra X não seja contemplada, isto pode também acontecer na segunda, terceira e em outras poucas vezes, onde também a letra X pode não apresentar a maior frequência.

O que aprendemos aqui, e associamos ao rating, é que as probabilidades não se organizam em filas, da maior para a menor e preenchendo as casas de resultados em legítima ordem. Tal fato, se aplicado ao rating, demonstra porque um banco ou um título de dívida com menor classificação de risco, ou seja, maior probabilidade de default, não apresenta curso anormal de operação necessariamente antes de outro melhor classificado.

Da mesma forma, você pode adquirir dois veículos para sua família, um cuja marca apresente maior histórico de defeitos que o outro e o primeiro se portar melhor que o segundo, ou seja, este último apresentar um defeito antes, o que pelas observações de frequências históricas apresentadas por analistas especializados, não seria coerente. Por outro lado, talvez a análise de toda a produção vendida dos modelos venha, através da lei dos grandes números, confirmar a previsões estatístico-probabilísticas.

Os atributos do processo

Como podemos estudar em nosso livro da disciplina, em especial na aula que se inicia na página 119, diversos aspectos são analisados pelos profissionais responsáveis por elaborar uma classifiicação de risco, desta forma, entender o tratamentos dos atributos e conhecê-los nos permite entender melhor como uma nota de risco é atribuída a uma operação de crédito.

Firmado o entendimento, para o caso de um processo interno de rating, cabe o cuidado na escolha do que será analisado e seus pesos, e mesmo sua dispersão, lembre-se das empresas e automóveis que usamos, como, por exemplo, onde resultados finais similares poderiam ser obtidos por caminhos e perfis diferentes.

Você já pensou em analisar o risco de suas decisões? Já pensou em ponderar o quanto possui de informação segura, presente e o quanto utiliza de observações passadas para efetuar simples escolhas, como de automóveis ou viagens, ou mais complexas e impactantes, como a compra de um imóvel para a família ou seu curso de graduação?

Atividade

O processo de classificação de risco pode ser feito em caráter interno ou por agente externo, em processos semelhantes de elaboração, porém diferentes em seus critérios de divulgação e utilização. Indique os usuais ou restritos responsáveis pelos dois tipos de rating.

Digite a sua resposta no espaço abaixo e, quando terminar, clique em Conferir.

conferir

Expectativa de resposta: O rating interno é elaborado pelo credor da operação, seja ela a concessão de crédito ou a aquisição de um título de dívida, assim, temos como exemplos os bancos, os fundos de pensão e as companhias seguradoras. O rating externo é atribuição privativa de agências classificadoras de risco, também denominadas agências de rating, as quais, pelo seu objeto social, na adquirem títulos de dívida e não concedem crédito.

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