Os caminhos da arte na Antiguidade

Tema 3 Arte romana: os conquistadores do mundo

Quais são as características da arte romana?

Colecionismo romano

Os romanos ficaram conhecidos no mundo das artes pelas grandes obras de engenharia e pela predileção que apresentaram por tudo o que se referia à cultura grega. A historiadora Françoise Choay define o ano de 146 a.C. como o ano do nascimento simbólico da obra de arte como algo colecionável. Isso se deu em função do seguinte fato.

[...] ao partilhar o butim entre os exércitos aliados que se seguiu ao saque de Corinto, o general romano L. A. Múmio ficou desconcertado com os lances que Átalo II oferecia pagar pelos objetos a que os romanos davam pouca importância.

(CHOAY, 2006, p. 33)

Ao se dar conta de tal fato, o general assegurou para si algumas pinturas de Aristides, as quais enviou à Roma, como oferenda aos deuses, juntamente com algumas estátuas. A partir de então, tornou-se prática comum a disputa entre as famílias nobres pelos objetos gregos espoliados pelos exércitos romanos. Acredita-se que Roma tenha espoliado a Grécia em uma escala equivalente às pilhagens napoleônicas. Os objetos, que eram alvo do interesse dos romanos, pertenciam aos períodos clássico e helenístico. Segundo Choay, são modelos que “servem para suscitar uma arte de viver e um refinamento que só os gregos tinham. [...] Não se tratava de uma medida reflexiva e cognitiva, mas de um processo de apropriação” (2006, p. 34).

Escultura

Como falamos anteriormente, devemos aos romanos a preservação de grande parte da estatuária grega. A maior parte das esculturas gregas eram em bronze e, por isso, não sobreviveram às guerras e aos conflitos. Era prática comum derreter as estátuas para se produzir armas. Porém, os romanos tinham o hábito de comprar réplicas de esculturas gregas como uma espécie de souvenir, de recordações de viagem ou como peças decorativas para suas villas.

Contudo, entre os romanos, o tipo mais comum que encontramos de escultura são os bustos das estátuas dos imperadores. Eles seguiam um certo padrão de representação, mas o realismo das faces demonstram uma preocupação quase psicológica no estudo dos modelos para a execução das imagens. O busto de Júlio César (figura 29), por exemplo, não mostra a preocupação com o ideal da beleza na representação. As marcas do tempo na sua face nos permitem acreditar que não tenha sido um retrato idealizado. Perecebam aqui o desenvolvimento da individualidade quando comparado ao busto de Alexandre que vimos em nosso tema anterior sobre arte grega. Os romanos aprenderam as técnicas com os gregos, porém, as utilizaram para suprir as necessidades administrativas da república, em um primeiro momento, e do império com força total.

Tal como os gregos haviam feito nos seus templos, as narrativas dos grande feitos, representadas em relevo, contribuíam para se perpetuar a memória do Império. Por isso, duas formas muito comuns de arquitetura comemorativa eram adotadas pelos romanos: os arcos triunfais e as colunas comemorativas. No arco de Constantino (figura 30), situado próximo ao Coliseu, estão narradas nos relevos os sucessos ocorridos na batalha da Ponte Mílvio, na qual Constantino derrotou o imperador Maxêncio. É em comemoração a essa batalha que o arco foi construído.

O arco de Trajano (figura 31) é um monumento construído, a pedido do próprio imperador Trajano, em comemoração às vitórias militares na campanha contra os dácios. Com uma altura total de 38 m (30 m de coluna mais 8 m de base) e 4 m de diâmetro, a coluna traz em seu corpo os relevos narrando as batalhas (figura 32).

Figura 29 – Busto de Júlio César.
Figura 30 – Arco de Constantino.
Figura 31 – Coluna de Trajano.
Figura 32 – Detalhe da coluna de Trajano.

Pintura

Durante muito tempo, o que tínhamos sobre a pintura romana era o que restava nas ruínas em Roma. No entanto, uma descoberta arqueológica, feita por acaso, trouxe à tona um universo desconhecido. As cidades italianas de Pompeia e Herculano ficaram soterradas durante aproximadamente dezesseis séculos. No ano de 79 d.C., o vulcão Vesúvio, localizado próximo a essas cidades, entrou em erupção. Toneladas de cinzas e pedras vulcânicas foram lançadas sobre a cidade de Pompeia, preservando-a da ação do tempo. Por causa dessa cápsula que protegeu a cidade, os painéis que decoravam as residências foram preservados. As residências e as demais construções mostraram-se de repente repleta de cores e imagens decorativas, permitindo-nos observar a realidade pictórica decorativa que foi narrada por tantos da Antiguidade, mas que não haviam sobrevivido para contar sua própria história.

As pinturas encontradas trazem desde naturezas-mortas, cenas com figuras humanas nas mais diversas situações (figura 33), animais até decorações imitando elementos arquitetônicos (figura 34), todas com cores vibrantes, alegres e com preocupações harmônicas, que demonstram claramente a influência dos preceitos da arte grega.

Crédito de atribuição editorial: mountainpix / Shutterstock.com

Figura 33 – Pintura mural em Pompeia.
Figura 34 – Pintura mural em Pompeia.

O acervo encontrado em Pompeia, que era uma cidade turística, balneária, nos dá uma amostra do que poderia ser encontrado nos grandes palácios e villas do império romano.

Arquitetura

Também na arquitetura, os romanos buscaram os modelos da arte grega, utilizando-os, porém, de acordo com suas necessidades. Algo que não pode ser deixado de lado, ao se pensar na arquitetura romana, é a sua finalidade prática. Como grandes administradores e engenheiros, os romanos sempre pensavam nas necessidades e na organização do império. O Coliseu (figura 35) e o Fórum Romano (figura 36) representam muito bem essas características.

O Coliseu foi construído entre 70 e 90 d.C., iniciado sob o reinado de Vespasiano, sendo somente concluído no reinado de Tito, seu sucessor. Localiza-se onde antes situava-se o lago construído por Nero, em frente à sua ‘casa dourada’. O Coliseu é uma construção de quatro andares formados por arcos. O primeiro andar segue a ordem dórica, o segundo, a ordem jônica, e o terceiro, a ordem coríntia. O quarto pavimento foi adicionado posteriormente. Sua planta tem forma elíptica e mede aproximadamente 190 por 155 m. Sua parte central possuía um sistema com elevadores que permitiam que os gladiadores, animais e prisioneiros fossem alçados até o centro da arena. Um canal, que se comunicava com os aquedutos próximos, permitia que o interior fosse inundado para a encenação de batalhas navais.

O Fórum Romano (figura 36) agregava diversas construções e era o principal centro comercial da Roma imperial. Cabe lembrar que a utilidade dos edifícios vinha em primeiro lugar para a administração romana. Ele abrigava as principais construções da Roma antiga, entre eles diversos templos, basílicas, o tabulário, onde ficavam os registros, os escritórios administrativos do governo romano e os arcos triunfais. Era o centro político e econômico de Roma. As ruínas dos templos ainda impressionam pela grandeza do conjunto, nos fazendo imaginar como deveria ter sido esse organismo quando ainda pulsava vivo na conjuntura administrativa de Roma.

Figura 35 – Coliseu.
Figura 36 – Forum romano.

As construções deixadas pelos romanos figuram em todos os territórios nos quais eles vieram a ocupar e simbolizavam o próprio poder civilizatório do império, capaz de levar os ideais da civitas romana a todos os cantos do mundo conhecido.

Aprofunde seu conhecimento, lendo o texto a seguir:

FUNARI, P. P. A.; CAVICCHIOLI, M. R. A arte parietal romana e diversidade. In: Atas do I Encontro de História da Arte. Campinas: Unicamp, v. 3, p. 111-124. Acesso em: 30 jun. 2017.

Ampliando o foco

Sobre a arte romana, ver:

GALVES, M. C. P.; PINHEIRO, A. C. F.; CRIVELARO, M. História da arte e do design: princípios, estilos e manifestações culturais. São Paulo: Érica, 2014, p. 57-73. Disponível na Minha Biblioteca.