A linguagem como meio de expressão e interação social
Aula 3
Textos informativos e textos literários
Para que servem os textos? Informar, conscientizar ou emocionar?
O texto informativo
Está claro que o texto informativo tem como principal função informar sobre um acontecimento ou uma circunstância. Entretanto, também faz parte da função utilitária do texto informativo esclarecer, orientar, propor, convencer.
A principal característica do texto informativo é a “linguagem objetiva”, ou seja, a linguagem que apresenta ao leitor algo que se observa de forma clara e direta. São exemplos de textos informativos os textos jornalísticos, científicos, técnicos, acadêmicos etc.
Em jornais, quando o texto apresenta uma opinião sobre um tema, ele é diagramado em seções à parte, como os editoriais.
Classifica-se um texto informativo pela linguagem utilizada e por sua função, e não pelo tema. No jornal ao lado, a notícia é sobre as cartas deixadas pelo escritor Carlos Drummond de Andrade, mas o foco é informativo.
O texto literário
Os textos literários são os que se destinam à arte, como romances, crônicas, contos e poemas. A principal característica do texto literário é a “linguagem subjetiva”, pois representa um sentimento, uma emoção ou um pensamento do sujeito.
Embora se defina o texto literário como “não utilitário”, várias correntes dos estudos sobre a linguagem se mostram contrárias a essa classificação. Isso por não se poder afirmar que um romance, um conto, uma crônica ou um poema não possui uma função utilitária na sociedade, tendo em vista que podem despertar a consciência social do leitor e ofertar conhecimentos úteis para sua vida prática.
A linguagem subjetiva exige mais recursos expressivos (tema estudado na aula 2 desta unidade) do que a linguagem objetiva, pois a função primeira do texto literário é emocionar o leitor.
Mário Quintana (1906–1994) foi poeta, tradutor e jornalista. Por sua preferência por temas comuns, é conhecido como “o poeta das coisas simples”.
Vários cronistas e poetas famosos se inspiraram em notícias de jornal para compor um poema. É o caso de Manuel Bandeira, que compôs o seguinte texto poético.
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966).
A publicação em um jornal não é suficiente para classificar um texto como informativo. Da mesma forma, o fato de um texto ser apresentado em um romance não garante que ele seja literário.
Então, o que distingue um texto informativo de um texto literário?
Resposta: a linguagem utilizada pelo autor do texto.
O texto poético de Manuel Bandeira poderia ser transformado no seguinte texto jornalístico:
“O carregador de feira livre conhecido como João Gostoso, morador do morro da Babilônia, morreu afogado na Lagoa Rodrigo de Freitas, na cidade do Rio de Janeiro. Testemunhas contaram que, após divertir-se no bar Vinte de Novembro e ter consumido uma quantidade considerável de bebida alcoólica, João Gostoso teria se jogado nas águas da lagoa, de onde foi retirado sem vida.”
Observe que, no texto literário, o autor destaca a alegria do personagem (“bebeu”, “cantou” e “dançou”), contrastando-a com o seu suicídio. Assim, o leitor se envolve com a situação, intensificando não o fato em si (o suicídio), mas a figura humana que vivencia o fato.
O texto temático e o texto figurativo
A leitura de um texto exige que estejamos atentos a dois elementos principais: o tema (conteúdo) e a forma como o tema é apresentado.
O tema está no “nível abstrato” do texto. Pode-se discutir o amor, o ódio, as leis, as virtudes, a política etc. somente com ideias abstratas.
A forma como o tema é discutido está no “nível concreto” do texto. Para discutir o amor, o autor pode optar por comparações, descrever ações, construir imagens etc.
Em relação ao “nível temático”, o quadro de Gustav Klint apresenta um beijo dado por um homem em sua amada.
Em relação ao “nível figurativo”, o quadro de Gustav Klint representa o beijo com os seguintes elementos concretos: a mulher é envolvida pelo homem, que segura o rosto feminino como se o protegesse; o homem beija o rosto da mulher; a mulher está de olhos fechados; ambos estão ajoelhados sobre flores e pérolas; tons de amarelo predominam no quadro, tanto nas roupas usadas quanto nas flores e pérolas sobre as quais estão os personagens.
A partir desse exemplo, podemos analisar os textos literários abaixo apresentados.
Foram selecionados trechos do capítulo I da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Clique aqui e observe os elementos de cada fragmento.
Vídeo da Unidade
Para saber mais se, ao lermos um texto, apreendemos de fato a mensagem que ele nos transmite sem que façamos uma análise que nos garanta uma interpretação adequada, assista ao vídeo da unidade: Aprender a (re)ler os textos: análise e interpretação.