Introdução à Anatomia: fundamentos da construção corpórea
Tema 1
História da Anatomia
Por que o homem começou a estudar anatomia?
A história da Anatomia tem início com os registros realizados pelo homem pré-histórico a partir de desenhos feitos nas paredes das cavernas que expressavam suas observações do comportamento e forma dos animais, de seu próprio corpo e os de outros homens.
A história da Anatomia anda em paralelo com a história da Medicina e são interdependentes. Os primórdios da Anatomia são relatados no Egito por meio de tentativa e erro para cura, mesclando ciência com magia, ocultismo e crenças, possibilitando a realização de cirurgias complexas devido ao seu conhecimento anatômico, destacando:
Imotep (2980-2950 a.C.), com os registros mais antigos de cura.
Menes (3400 a.C.), que fez o primeiro manual de Anatomia.
Na Mesopotâmia, há registros anatômicos em argila de mais de 3 mil anos. Na Grécia Antiga, os conhecimentos adquiridos no antigo Egito, por intermédio das obras de Imotep, tornaram-se mais avançados.
O registro mais antigo de pesquisas anatômicas foi realizado por Alcmeon. D escobridor do nervo óptico e da tuba auditiva a partir da dissecação de animais, Alcmeon foi o primeiro a mencionar a dominância do cérebro sobre as funções corpóreas, ideia confirmada mais tarde por Hipócrates. Dois mil anos depois da descoberta da tuba auditiva, Eustáquio conduziu novos estudos e a descreveu.
Alcmeon (500 a.C)
Discípulo de Pitágoras, reconhecido por muitos como o “Pai da Anatomia”.
Considerado Pai da Medicina, Hipócrates (460 – 377 a.C.) foi um dos percussores da anatomia comparada ao dissecar várias espécies animais e compará-los com as características morfológicas humanas, alicerçado nas obras de Imotep.
O estudo da morfologia dos organismos para fins científicos foi defendido pelo filósofo grego Aristóteles (384 – 322 a.C), discípulo de Platão, e acredita-se que ele tenha realizado pesquisas anatômicas mediante a dissecação de aproximadamente 50 espécies animais. Iniciando pesquisas em relação à anatomia comparada, Aristóteles localizou e definiu os vasos sanguíneos, tornando-se o primeiro a utilizar a terminologia “aorta” e a denominar e descrever partes do trato digestório e dos compartimentos do ventrículo dos ruminantes.
Devido à superficialidade de suas observações, suas descrições eram incompletas, ocasionando falsas conclusões. Contudo, o conhecimento de Aristóteles gerou alguns tratados como as obras Historia Animalium e O andar dos animais, o que motivou outros estudiosos, como os naturalistas romanos Plínio e Eliano, além de Teofrasto de Éreso, discípulo de Aristóteles, a conduzirem mais estudos acerca da anatomia.
No século IV a.C, foi fundada no Egito a Escola de Alexandria. Houve ali a difusão da filosofia de Platão e Aristóteles, deixando de lado superstições e tabus sobre a dissecação de cadáveres humanos, gerando grande avanço na ciência anatômica. Destacaram-se, nessa escola:
Herófilo dissecou o plexo coroide, descrevendo sete dos 12 pares de nervos cranianos, além de ter realizado a distinção dos nervos sensoriais e motores
Erasístrato relatou as diferenças entre cérebro e cerebelo do homem, comparando-os com os dos animais. Também descreveu a cisterna do quilo e os vasos quilíferos. Consentiu a existência das valvas cardíacas e as denominou tricúspide e sigmoide.
Com a expansão do Império Romano, por volta do século II a.C. voltaram as superstições e tabus acerca das dissecações de corpos, devido às suas filosofias contrárias à ciência, abolindo a dissecação de cadáveres humanos por razões éticas e religiosas, permanecendo assim apenas as práticas de dissecações de animais.
Ao compilar as descrições anatômicas realizadas por estudiosos e compará-las com suas próprias descrições decorrentes das dissecações realizadas em animais, Rufus (século I e II d.C.), escreveu o tratado Sobre o nome das partes do corpo, considerado a primeira Nomenclatura Anatômica.
Galeno (130-201 d.C), grande filósofo e médico cirurgião, aperfeiçoou seus estudos na Escola de Alexandria e foi o primeiro a conduzir pesquisas médicas no campo da fisiologia. Conhecido como o médico dos gladiadores, defendia veementemente as práticas de dissecação e, mesmo sob proibição romana, fez dissecação em cadáveres humanos devido à necessidade de conhecimento anatômico, aprimorando suas técnicas médicas cirúrgicas.
“Pela ignorância da anatomia, pode-se ser tímido demais em operações seguras ou temerário e audaz em operações difíceis e incertas”. (Galeno)
Em Salerno, por volta de 1.100 e 1.150, Cofo publicou um Atlas de anatomia de porcos, Anatomia porci, que era destinado a estudantes de Medicina para o estudo da anatomia humana, pois, devido aos hábitos alimentares semelhantes e sua disponibilidade como material de estudo, criou-se um mito de que os porcos são semelhantes ao homem e este fundamento é aceito até os dias atuais.
Na Idade Média, após a morte de Galeno, houve um grande silêncio na história da Anatomia devido à grande influência da Igreja, que visava mais a alma do que o corpo. O corpo não poderia ser violado e quem não cumprisse as regras impostas seria excomungado.
Estudos com cadáveres humanos deixou de ser tabu na época da Renascença e o médico belga Andreas Vesalius, a partir de sua obra De humani corporis fabrica (1543), revolucionou o campo da Biologia e da Medicina, contestando a obra de Galeno, corrigindo os erros e tornando-se o Pai da Anatomia Moderna. Na Anatomia Veterinária, Vesalius foi o primeiro a reconhecer que a rede admirável epidural é uma estrutura clássica de ruminantes.
Em 1685, a partir de estudos realizados acerca da digestão de ruminantes, Johann Conrad Peyer publicou sua obra Merycologia sive de ruminantibus et ruminatione commentaries. O agregado linfático encontrado na mucosa intestinal recebeu seu nome e hoje é conhecido como Placa de Peyer.
Há poucos séculos que a Anatomia Veterinária passou a ser pré-requisito para a prática medica veterinária no campo de ensino e de pesquisa. Textos antigos direcionados a tratadores de animais, principalmente de cavalos, revelou a necessidade de mais conhecimento pormenorizado sobre a anatomia animal. Diante disso, o veterinário francês Philippe-Étienne Lafosse fundou, em Paris, com recursos próprios, uma escola de veterinária particular (1767- 1770) e publicou sua maior obra: Cours d’Hippiatrique – Um Curso sobre Hipiatria ou Um Tratado Completo sobre a Medicina de Cavalos.
A Anatomia passou a ser considerada uma disciplina fundamental e independente nas escolas de Medicina Veterinária. Contudo, só em 1822 foi publicado um livro-texto mais detalhado sobre Anatomia.
Para saber mais sobre a história da anatomia, acesse Minha Biblioteca e leia: KONIG, H. E. LIEBICH, H-G. Anatomia dos Animais Domésticos. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. (p.01-05) ISBN: 9788582712993