O corpo de um animal vertebrado é construído com base em princípios relacionados a planos anatômicos que auxiliam o estudo da anatomia topográfica, da embriologia e da histologia.
Os princípios de construção são:
I. Antimeria
O plano que induz a este princípio é o plano mediano, responsável por dividir o corpo em duas metades semelhantes, funcional e morfologicamente, denominadas antímero direito e antímero esquerdo, seguindo o pensamento de que os corpos dos vertebrados são construídos segundo o princípio da simetria bilateral. Contudo, em uma análise mais detalhada, a simetria perfeita não existe, pois não há correspondência exata de todos os órgãos situados nos antímeros direito e esquerdo. A simetria é mais notável durante o desenvolvimento embrionário, se perdendo, em parte, com o desenvolvimento do indivíduo, surgindo assim a assimetria.
Quando estudamos os órgãos ou estruturas pares, podemos notar assimetria:
- Em relação à posição devido ao deslocamento mais cranial ou caudal de um em relação ao outro, a exemplo dos rins (exceto nos suínos e no homem) e dos ovários (o direito é mais cranial quando comparado ao esquerdo).
- Em relação à forma de alguns órgãos como os rins do equino, em que o rim direito tem o formato semelhante ao de um coração e o esquerdo, ao de um feijão; as glândulas adrenais e os pulmões direito e esquerdo também possuem formas distintas.
- Em relação a órgãos situados no antímero direito e esquerdo da região abdominal cranial, a exemplo do fígado dos herbívoros (situado no lado direito) e do baço (lado esquerdo).
- Também sob o ponto de vista funcional, a exemplo dos ovários da vaca, em que o ovário direito é mais ativo do que o esquerdo.
II. Metameria
O plano que induz ao princípio da metameria é o plano transversal. A metameria é a superposição de segmentos semelhantes no sentido longitudinal. Cada segmento corresponde a um metâmero, sendo separados por planos transversais. A metameria é muito mais evidente na fase embrionária quando comparada à antimeria, conservando-se no adulto em apenas algumas estruturas, a exemplo:
- Da coluna vertebral – superposição de vértebras.
- Do tórax – costelas em série longitudinal, deixando entre elas os chamados espaços intercostais.
- Da disposição dos vasos e nervos intercostais.
- Das raízes dos nervos espinhais e cranianos.
III. Paquimeria
O plano que induz ao princípio da paquimeria é o plano dorsal, também conhecido como planos horizontal ou frontal. Esquematicamente, a paquimeria ocorre quando há estratificação do segmento axial do corpo do indivíduo formando dois tubos: um tubo dorsal e um tubo ventral.
O paquímero ventral é maior quando comparado ao paquímero dorsal e, por conter as vísceras, também é denominado de paquímero visceral.
O paquímero dorsal é constituído pela cavidade craniana, e o canal vertebral (situado dentro da coluna vertebral) abriga o sistema nervoso central (o encéfalo na cavidade craniana e a medula no canal vertebral). Por esta razão, o paquímero dorsal é também denominado “paquímero neural”.
IV. Estratificação
Ao contrário dos demais, o princípio da estratificação não depende de planos de secção. É um tipo geral de construção corpórea em que o corpo do animal está disposto em camadas (estratos) que se superpõem, caracterizando a estratimeria ou estratificação. Este princípio é mais evidente no desenvolvimento embrionário. Contudo, em indivíduos completamente formados, podemos verificar o princípio da estratificação em alguns órgãos ou estruturas, como:
- Da pele, que se dispõe em camadas (derme, epiderme e hipoderme).
- Dos órgãos ocos, como o ventrículo (antes chamado de estômago), que possui camada serosa, muscular, submucosa e mucosa.
A disposição estratigráfica dos órgãos é objeto de estudo da Histologia.
Outros conceitos importantes para o estudo da Anatomia
Os conceitos expostos até o momento visam enquadrar os animais em critérios comuns de observação. Contudo, esses estudos mostram que não há uniformidade em relação às suas características morfológicas, não podendo ser padronizados. Essas diferenças são visíveis e algumas vezes só são confirmadas quando estudamos a sua função. Para isso, utilizamos alguns conceitos que auxiliam no estudo da Anatomia.
E se quiséssemos saber qual a área de abordagem do rúmen, um dos componentes do ventrículo pluricavitário do bovino adulto?
Dica
O ventrículo pluricavitário é encontrado em ruminantes e apresenta quatro compartimentos, que podemos dividir em proventrículos: rúmen, reticulo, omaso e ventrículo representado pelo abomaso. No filhote, apenas o abomaso é funcional e desenvolvido. Logo, em uma avaliação do ventrículo dos ruminantes no filhote, não iremos abordar o rúmen. O rúmen está localizado à esquerda do plano mediano. Então, no adulto abordaremos o antímero esquerdo em toda sua extensão lateral esquerda.
Dica
Para aprofundar os seus conhecimentos sobre Anatomia Veterinária seguem dicas de bibliografias que abordam o tema e que podem servir de referência ao longo de toda sua vida profissional.
- DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana Básica. Rio de Janeiro: Atheneu, 1984.
- DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. Tratado de Anatomia Veterinária. 4.ed. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2010.
- EVANS, H. E., de LAHUNTA, A. Guia de dissecação do cão (Guide to the dissection of the dog, 8th ed.). Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2017.
- GETTY, R. SISSON/GROSSMAN. Anatomia dos Animais Domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
- GODINHO, H. P.; CARDOSO, F. M.; NASCIMENTO, J. F. Anatomia dos Ruminantes Domésticos. Belo Horizonte: UFMG, 1987.
- KONIG, H. E. LIEBICH, H-G. Anatomia dos Animais Domésticos. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
- MACHADO, A. B.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia Funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2014.
- POPESKO, P. Atlas de Anatomia Topográfica dos Animais Domésticos. 5. ed. São Paulo: Manole, 2012.
- PRADA, I. Neuroanatomia Funcional em Medicina Veterinária com correlações clínicas. Jaboticabal: Terra, 2014.