Introdução à Anatomia: fundamentos da construção corpórea

Tema 4 Princípios gerais de construção corpórea

Por que é necessário conhecer a histologia e a construção topográfica do corpo do animal?

O corpo de um animal vertebrado é construído com base em princípios relacionados a planos anatômicos que auxiliam o estudo da anatomia topográfica, da embriologia e da histologia.

Os princípios de construção são:

I. Antimeria

O plano que induz a este princípio é o plano mediano, responsável por dividir o corpo em duas metades semelhantes, funcional e morfologicamente, denominadas antímero direito e antímero esquerdo, seguindo o pensamento de que os corpos dos vertebrados são construídos segundo o princípio da simetria bilateral. Contudo, em uma análise mais detalhada, a simetria perfeita não existe, pois não há correspondência exata de todos os órgãos situados nos antímeros direito e esquerdo. A simetria é mais notável durante o desenvolvimento embrionário, se perdendo, em parte, com o desenvolvimento do indivíduo, surgindo assim a assimetria. Quando estudamos os órgãos ou estruturas pares, podemos notar assimetria:

  • Em relação à posição devido ao deslocamento mais cranial ou caudal de um em relação ao outro, a exemplo dos rins (exceto nos suínos e no homem) e dos ovários (o direito é mais cranial quando comparado ao esquerdo).
  • Em relação à forma de alguns órgãos como os rins do equino, em que o rim direito tem o formato semelhante ao de um coração e o esquerdo, ao de um feijão; as glândulas adrenais e os pulmões direito e esquerdo também possuem formas distintas.
  • Em relação a órgãos situados no antímero direito e esquerdo da região abdominal cranial, a exemplo do fígado dos herbívoros (situado no lado direito) e do baço (lado esquerdo).
  • Também sob o ponto de vista funcional, a exemplo dos ovários da vaca, em que o ovário direito é mais ativo do que o esquerdo.
II. Metameria

O plano que induz ao princípio da metameria é o plano transversal. A metameria é a superposição de segmentos semelhantes no sentido longitudinal. Cada segmento corresponde a um metâmero, sendo separados por planos transversais. A metameria é muito mais evidente na fase embrionária quando comparada à antimeria, conservando-se no adulto em apenas algumas estruturas, a exemplo:

  • Da coluna vertebral – superposição de vértebras.
  • Do tórax – costelas em série longitudinal, deixando entre elas os chamados espaços intercostais.
  • Da disposição dos vasos e nervos intercostais.
  • Das raízes dos nervos espinhais e cranianos.
III. Paquimeria

O plano que induz ao princípio da paquimeria é o plano dorsal, também conhecido como planos horizontal ou frontal. Esquematicamente, a paquimeria ocorre quando há estratificação do segmento axial do corpo do indivíduo formando dois tubos: um tubo dorsal e um tubo ventral.

O paquímero ventral é maior quando comparado ao paquímero dorsal e, por conter as vísceras, também é denominado de paquímero visceral.

O paquímero dorsal é constituído pela cavidade craniana, e o canal vertebral (situado dentro da coluna vertebral) abriga o sistema nervoso central (o encéfalo na cavidade craniana e a medula no canal vertebral). Por esta razão, o paquímero dorsal é também denominado “paquímero neural”.

IV. Estratificação

Ao contrário dos demais, o princípio da estratificação não depende de planos de secção. É um tipo geral de construção corpórea em que o corpo do animal está disposto em camadas (estratos) que se superpõem, caracterizando a estratimeria ou estratificação. Este princípio é mais evidente no desenvolvimento embrionário. Contudo, em indivíduos completamente formados, podemos verificar o princípio da estratificação em alguns órgãos ou estruturas, como:

  • Da pele, que se dispõe em camadas (derme, epiderme e hipoderme).
  • Dos órgãos ocos, como o ventrículo (antes chamado de estômago), que possui camada serosa, muscular, submucosa e mucosa.

A disposição estratigráfica dos órgãos é objeto de estudo da Histologia.

Outros conceitos importantes para o estudo da Anatomia

Os conceitos expostos até o momento visam enquadrar os animais em critérios comuns de observação. Contudo, esses estudos mostram que não há uniformidade em relação às suas características morfológicas, não podendo ser padronizados. Essas diferenças são visíveis e algumas vezes só são confirmadas quando estudamos a sua função. Para isso, utilizamos alguns conceitos que auxiliam no estudo da Anatomia.

  • Homologia

    Refere-se às estruturas que têm a mesma origem e localização em espécies distintas, porém apresentam funções diferentes, como o membro torácico do cavalo e as asas da galinha.

  • Analogia

    Refere-se às estruturas que desempenham a mesma função com origem e localização diferentes, como os pulmões dos mamíferos e as guelras dos peixes.

  • Variação anatômica

    Diferenças morfológicas individuais externas ou internas (sistemas do organismo) que não trazem prejuízo à função, como a polidactilia.

    Polidactilia: Aumento de número de partes (dedo) ou o deslocamento de um órgão (distopia).

  • Normal

    Algo é considerado normal quando ocorre com mais frequência em uma população e não inclui a possibilidade de variação, obedecendo a um padrão. Em Anatomia, o padrão é o normal em um conceito estatístico.

  • Anomalia

    Alteração anatômica que causa prejuízo à função. Por exemplo:

    • Fenda palatina e lábio leporino.
    • Teta invertida na porca, que impossibilita a sucção pelo leitão.
    • Aplasia de órgãos, como a aplasia genital segmentar da vaca.
  • Monstruosidade

    Alteração anatômica que leva a intensa deformação da construção do corpo, tornando-se incompatível com a vida. A ciclopia e a agenesia de encéfalo (não desenvolvimento do encéfalo) são exemplos de monstruosidade. As monstruosidades são objetos de estudos na teratologia.

Para finalizar, vamos conhecer os fatores gerais de variações individuais.

Idade

Há inúmeras variações anatômicas devido a modificações em decorrência do desenvolvimento do indivíduo, como a presença do timo em animais jovens que desaparece no adulto e alteração na fórmula dentária e na forma dos dentes em filhotes e adultos.

Sexo

Além das características dos órgãos sexuais, o dimorfismo sexual é um critério de variação anatômica evidente em algumas espécies. Por exemplo:

  • Plumagem dos pavões: o macho possui a plumagem mais colorida e exuberante em comparação à da fêmea.
  • Presença do dente canino no cavalo, sendo pouco frequente na égua.
  • Juba do leão.
Raça

O fator racial determina alterações anatômicas em uma mesma espécie. A exemplo da conformação do crânio de cães, temos:

  • Braquiocefálico (pugs, shih-tzu, buldogue).
  • Mesocefálico ou mesaticefálico (labradores, beagles, golden retriever).
  • Dolicocefálico (dachshund, galgo).

Já os bovinos apresentam características fenotípicas diferentes, que atribuem particularidades a determinadas raças. Um exemplo é a barbela ausente no Bos indicus (zebuínos, a exemplo do nelore) e rudimentar no Bos tauros (europeu, a exemplo do holandês).

Linhagem

Fator de comparação semelhante à raça, uma vez que o aumento de cruzamentos para determinar uma característica genética é frequente. Um exemplo de variação de acordo com a linhagem ocorre em suínos, em que a linhagem Landrace apresenta “quatro pernis”.

Biotipo

O biotipo está relacionado à anatomia constitucional dos atributos físicos do corpo e representa um importante fator de variação. No biotipo são analisadas as proporções de suas partes, classificando-as em:

  • Longilíneo (altos, com membros longos).
  • Brevilíneo (baixos, com membros curtos).
  • Mediolíneo (característica de transição entre o longilíneo e o brevilíneo — equilíbrio entre os membros e o tronco).
Evolução

A evolução é marcada ao decorrer de milhares de anos, por mudanças morfológicas lentas entre as espécies. A espécie Homo sapiens, por exemplo, aumentou de altura, enquanto sua constituição tornou-se menos maciça. Também temos como exemplo a espécie Equus (cavalos), cujo estudo dos fósseis mostra a evolução com a redução do número de dedos.

Meio ambiente

O meio ambiente é um dos fatores mais ativos e comuns de variação. Sua influência determina a adaptação animal, além de poder ser modificado pela ação do homem. Um exemplo é o desenvolvimento de caracteres econômicos que dependem do ambiente em que o animal é mantido.

Vejamos um exemplo de histologia e construção topográfica do corpo do animal.

E se quiséssemos saber qual a área de abordagem do rúmen, um dos componentes do ventrículo pluricavitário do bovino adulto?

Dica

O ventrículo pluricavitário é encontrado em ruminantes e apresenta quatro compartimentos, que podemos dividir em proventrículos: rúmen, reticulo, omaso e ventrículo representado pelo abomaso. No filhote, apenas o abomaso é funcional e desenvolvido. Logo, em uma avaliação do ventrículo dos ruminantes no filhote, não iremos abordar o rúmen. O rúmen está localizado à esquerda do plano mediano. Então, no adulto abordaremos o antímero esquerdo em toda sua extensão lateral esquerda.